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ABIN PARALELA
Governo Bolsonaro Espionou Augusto Heleno

Terá Inácio da Silva vontade política suficiente para buscar respostas pela espionagem da família Bolsonaro, em parceria com o Exército brasileiro? Existe a possibilidade de que tal abuso esteja indo além das patológicas ambições familiares dos Bolsonaro configurando-se, ainda hoje, guerra do próprio Estado contra a sociedade

3 de abril de 2024

General Heleno e o ex-presidente Jair Bolsonaro, em imagem de arquivo — Foto: Divulgação/Carolina Antunes/PR

O ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) utilizou o programa israelense First Mile para espionar seu próprio ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, revelou a jornalista Renata Agostini do jornal O Globo dias atrás.

Investigação da Polícia Federal, que aponta Carlos Bolsonaro como o coordenador político da denominada “Abin Paralela”, chegou à informação de que o celular profissional do então ministro de Bolsonaro foi consultado por este método ilegal 11 vezes em maio de 2020, época do conflito entre o então ministro de Justiça Sérgio Moro e Bolsonaro. 

Moro havia deixado a pasta em abril, e Bolsonaro reclamava que não obtinha suficientes informações estratégicas a este respeito, o que atingia exatamente o ministro do GSI. Além disso, o próprio Heleno havia sido designado por Bolsonaro como responsável pela tentativa de apaziguar o confronto de Moro com o então presidente da República.

Considerando que o aparelho telefônico não estava em nome do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, a alta possibilidade é que alguém muito próximo dele utilizou-se da informação para a espionagem, e que Bolsonaro desconfiava de aliados próximos, incluindo Heleno.

A First Mile havia sido contratada em 2018 sem licitação pelo então presidente Michel Temer, mantida por Bolsonaro até pelo menos maio de 2021. Através deste programa, que deveria ser restrito a um único indivíduo nomeado pela Abin (serviço brasileiro de inteligência), foram guardados dados de mais de 30 mil brasileiros, todos espionados ilegalmente incluindo jornalistas, sindicalistas e professores opositores ao governo de Bolsonaro.

Sabe-se com certeza que ao menos até 2021 a tecnologia de espionagem israelense esteve em vigor no governo brasileiro, utilizando “técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, nenhum controle judicial ou do Ministério Público” conforme afirma a Polícia federal.

Porém, falta esclarecer se este aplicativo espião não apenas foi utilizado até o término do mandato de Bolsonaro, como se ainda está vigente considerando o fato relevante de que funcionários bolsonaristas da Abin daquela época, têm sido mantidos no cargo pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A investigação abre a seria possibilidade de que a espionagem siga em andamento no atual governo. O atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, nomeado pelo atual presidente em 30 de maio de 2023, já se encontrou com o  deputado bolsonarista Alexandre Ramagem (PL/RJ), um dos principais responsáveis pela “Abin Paralela”. Ramagem foi diretor da Abin de 2019 a 2022.

Os militares estão igualmente envolvidos neste caso, enquanto responsáveis pelo lobby para a compra de uma série de programas de espionagem. Quando era interventor Federal no Rio de Janeiro em 2018, Walter Souza Braga Netto repassou R$ 40 milhões exatamente à empresa israelense detentora do software de espionagem.

Questionado pelo jornal Folha de S. Paulo se os propósitos do repasse eram de espionagem, o Exército negou-se a responder afirmando não ser obrigado a responder casos em que determinada revelação “possa prejudicar ou causar riscos ou operações estratégicos da Forças Armadas”, ou que “comprometa atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento”.

É esperado que a Corregedoria Geral da União (CGU) inicie, nos próximos dias, processos administrativos disciplinares contra os servidores envolvidos no esquema de espionagem. A CGU e a Polícia Federal têm o dever de esclarecer se o First Mile continua sendo utilizado pela Abin, e qual exatamente o papel desempenhado pelos bolsonaristas na agência de inteligência hoje.

Terá Inácio da Silva vontade política suficiente para buscar tais respostas? Pelo andar da carruagem geral deste governo, será uma grande surpresa se a resposta para esta pergunta for “sim”, o que possibilitaria trazer à sociedade respostas às urgentes questões acima, ainda obscuras, sobre mais este crime de abuso de poder pelo Estado brasileiro. Uma das tantas guerras particulares às custas do Estado, promovidas pelos detentores do poder neste País.

O que mais esta esta revelação sobre o caso ressalta, é que a rede de espionagem era utilizada para além dos interesses do governo de Bolsonaro, mas sobretudo em estreito favor à família deste em sua bem-conhecida ambição pelo poder, visto que servia para espionar até integrantes da presidência.

Nenhuma novidade em se tratando de uso da máquina estatal para fins particulares pela família Bolsonaro, e através de métodos agressivos como marca registrada chegando a extrapolar até a imaginação coletiva.

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