WikiLeaks: Revelações dos Segredos de Estado dos Estados Unidos

Brevemente aqui, todo o conteúdo de WikiLeaks: reportagens, entrevistas e traduções inéditas de telegramas secretos liberados pela organização de Julian Assange

Castigo para Assange, Advertência a Jornalistas, Carta Branca aos Podres Poderes

Assassina-se o jornalista australiano paulatinamente. Preso político mais famoso do mundo,
condenado pelos mesmos criminosos que ousou denunciar

21 de marco de 2024

“O crime de Julian Assange é ter realizado o trabalho de um jornalista sério”, disse Noam Chomsky, um dos maiores defensores do jornalista australiano em todo o mundo, em entrevisa a este autor para reportagem publicada no Atlas Institute for International Affairs de Londres no início de 2021, quando estava prestes a cumprir-se dois anos da detenção do jornalista australiano exatamente pela polícia londrinense.

Desde então, na Prisão de Belmarsh na capital inglesa onde aguarda decisão da corte local se o extradita aos EUA onde cumpriria pena de 175 anos confinado em cela solitária, a saúde do jornalista que ousou revelar os segredos de Estado dos EUA, deteriora-se rapidamente. Em entrevista à BBC de Londres em fevereiro deste ano Stella Assange, esposa do jornalista, disse que seu cônjuge não sobreviveria se extraditado aos EUA.

O Rei Está Nu

“Todos os súditos estavam de joelhos, admirando as roupas novas do rei. Aos milhares, os plebeus o aplaudiam. Nunca tinham visto algo tão bonito. De repente, uma garotinha que segurava a mão da mãe em meio à multidão apontou o dedo ao rei e disse: – Mamãe, o rei está nu! Ele não está usando roupa nenhuma! Ninguém acreditou na garotinha. Sua mãe pediu que ficasse quieta e todos esqueceram dela. As pessoas continuaram a admirar as roupas novas do rei (…). Todos os outros agiram motivados por seus interesses, por seus medos ou por uma combinação de ambos”, Síndrome de Pinóquio, David Zeman; ficção literária, 2003

A condenação, na prática, não se deve à Lei de Espionagem por ter divulgado informações classificadas como o acusa Washington, mas por falar a verdade. Fato este sustendado por inúmeros organismos internacionais como ONU, Anistia Internacional, Repórteres sem Fronteiras entre inúmeros outros por direitos humanos, e relações internacionais. Dentro dos EUA, o jornalista australiano é defendido por vários órgaos jurídicos independentes, e por outros tantos em favor das liberdades civis.

John Kiriakou, ex-agente da CIA e denunciante preso por dois anos e meio nos EUA por revelar métodos de tortura do serviço de inteligência de seu país contra prisioneiros acusados de terror internacional, sob aval direto do então presidente George W. Bush, havia dito em entrevista a este autor dezembro de 2018: “Assange não roubou informação. Ele simplesmente a recebeu, e tornou pública”.

A amarga ironia disso tudo, talvez tão aberrante quanto as próprias revelações de WikiLeaks que configuram o maior escândalo político internacional da história, é que quem o acusa e condena agora foi exposto por suas revelações.

A condenação do co-fundador de WikiLeaks desconsidera argumentos e vastas provas apresentadas por renomados especialistas internacionais, além da própria ONU. Não supreendentemente, a rapidez e o rigor com que foi sentenciado Assange contrapõem-se à impunidade de que gozam os mesmos políticos inescrupulosos e criminosos que WikiLeaks revelou, expondo ao mundo como atuam os porões do poder dentro e fora dos EUA.

Tanto quanto não surpreende o ensurdecedor silêncio diante disso tudo, dos grandes meios de comunicação controlados pelos podres poderes que dominam este mundo, denunciados por Assange. E até tu, Brutos, filho meu: hoje o silêncio de diversos meios nanicos, neste caso a essência faz jus à dimensão: instrumentos de interesses político-partidários que WikiLeaks tampouco hesitou em expor, mundo afora.

Moralmente nanicos, mais que tudo: em muitos casos, nano-jornalismo outrossim de joelhos sob “a baba do quiabo” que escorre das vísceras do poder corrupto que governa este mundo. Os pingos nos -is foram devidamente colocados por WikiLeaks. Inclusive sobre politicagem e omissões de líderes que dão as cartas neste nano-jornalismo, que hoje vira as costas a Assange.

As revelações de WikiLeaks confirmaram o que vários jornalistas – relativamente vasta minoria no Brasil e no mundo, sempre ignorados e em muitos casos ridizularizados, o que ocorre até hoje de certa maneira, por incrível que possa parecer – vinham denunciando sobre os poderes políticos globais.

Guerra contra a Liberdade de Expressão

A condenação de Assange é recado claro, direto e contundente, sem a menor timidez a jornalistas e ativistas em todo o mundo: não se ouse fazer o que o jornalista australiano fez.

A condenação de Assange, “perseguição com motivação política” como observou Chomsky na reportagem mencionada mais acima, é a etapa mais acirrada da guerra contra a liberdade de expressão, o furioso contra-ataque dos poderes globais inescrupulosos levado às últimas consequências, ao confronto jornalístico que os ameaça.

Isto explica por que os barões da mídia, sustentados pelas grandes corporações que anunciam em seus meios (muitas delas, propriamente, de posse de grandes políticos), insistem em jogar WikiLeaks ao esquecimento tanto quanto a morte gradual a que está implacavelmente sendo submetido seu co-fundador desde 2019, quando foi preso na capital inglesa.

Desejando o Melhor, Preparados para o Pior

No mesmo sentido da afirmação de Chomsky mencionada no início, há tres semanas o Democracy Now! dos EUA trasmitiu reportagem que trazia o título: “Liberdade de Imprensa Sendo Julgada” (Press Freedom on Trial), sobre a possível estradição de Assange pelo Tribunal britânico, aos EUA. Semanas antes disso, no mesmo programa Kiriakou havia afirmado sobre a situação atual de Assange: “Desejamos o melhor, mas devemos estar preparados para o pior”.

Co-fundador e co-diretor do movimento Assange Defense Committee dos EUA “que luta para libertar Julian Assange”, Chomsky disse na já mencionada reportagem quando se cumpria dois anos da detenção do australiano em Londres, que “não ficaria surpreendido se algum dia soubéssemos que o juiz Baraitser tomou a decisão de não extraditar o jornalista, como especie de favor ao presidente Biden a fim de este ser poupado do constrangimento de um escândalo internacional pela prisão perpétua” ao co-fundador de WikiLeaks.

“Talvez possamos atribuir estes processos judiciais à ‘relação especial, o eufemismo para o declínio da Grã-Bretanha de principal potência global a vassalo do seu sucessor neste papel feio’, aponta para o presente relatório o Professor da Universidade do Arizona, do seu residência em Tucson, onde mora com sua esposa brasileira Valeria.

Afirmação do ‘Jornalismo’-Negócio

A extradição de Julian Assange significaria um golpe imensurável à livre prática jornalística. A escancarada permissão para que genocidio como contra os palestinos pelo Estado sionista destes dias, continuem sem nenhuma punicao (genocidio que WikiLeaks tambem expos).

Para que do “berço da democracia moderna” haja apoio político e impunidade perpétua ao cruel Reino saudita. Assim como ocorre com qualquer outro violador de direitos humanos em todo o mundo, desde que seja fiel aliado aos EUA.

A extradição de Assange seria a consolidação do sinal verde às unilaterais “guerras preventivas” e “justas” do único país na história a ter lançado bombas atômicas, que acumula crimes de guerra e contra a humanidade em todo o mundo.

Da mesma maneira, consolidação do sinal verde aos golpes contra democracias na América Latina e em todo o mundo através de militarização baseada em mentiras e falsos inimigos, assassinatos de presidentes autenticamente eleitos por sufrágio universal, e de boicotes de todo o tipo.

A extradição do co-fundador do WikiLeaks representa o fortalecimento do ofício jornalístico como negócio em detrimento da construção social da realidade legitimando a subserviência dos profissionais da imprensa diante das conveniências, em detrimento da verdade dos fatos.

Consagra o público como mero consumidor de informação de acordo com interesses políticos e econômicos do topo da pirâmide, criminalizando jornalistas engajados na essência do seu trabalho: fiscalização dos poderes constituídos e denúncias de corrupção, de abusos do Estado e de violação de direitos humanos.

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