Magis quam Verbis. Linguística

Magis quam verbis = “Mais que palavras”, em latim. Isto é uma língua: a identidade de uma nação

“Nos Estados onde existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, não será negado às pessoas
pertencentes a essas minorias o direito de ter em comum, com os outros membros do seu grupo,
sua própria vida cultural, de professar e praticar a própria religião e de utilizar a própria língua“,
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966), artigo 27

“Todas as comunidades linguísticas têm o direito de codificar, estandardizar, preservar,
desenvolver e promover
seu sistema linguístico, sem interferências induzidas ou forçadas”,
Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (1996), artigo 9

A linguística, disciplina científica que investiga origem, evolução, estrutura e fundamentos da linguagem para compreender a dinâmica das línguas, consolidou-se como tal no início do século XIX, momento em que se realizava uma das principais características da ciência moderna: o questionamento da experiência quotidiana

Conteúdo:

Minoritetsspråk i Sverige: Övdalsk. Língua Minoritária na Suécia: Dalecarliano, março de 2024

Kalaallisut: Situação da Língua Groenlandesa Hoje, 16 de março de 2024

Você sabia que…

No mundo hoje, uma língua desaparece a cada duas semanas?

Quando uma língua morre, morre com ela uma forma
de compreender o mundo, uma forma de ver o mundo

George Steiner

21 de fevereiro: Dia Internacional da Língua Materna

Uma língua é muito mais do que um meio de comunicação; é a própria condição da nossa humanidade. Nossos valores, nossas crenças e nossa identidade estão incorporados nela. É através da linguagem que transmitimos anossas experiências, as tradições e os nossos conhecimentos. A diversidade de línguas reflete a riqueza incontestável da nossa imaginação, e dos nossos modos de vida
Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, 21.2.2018

A UNESCO acredita na importância da diversidade cultural e linguística para sociedades sustentáveis. Consta em seu mandato pela paz, que trabalhe para preservar as diferenças de culturas e línguas promovendo tolerância e respeito pelos outros. A diversidade linguística está cada vez mais ameaçada à medida que mais e mais línguas desaparecem. Globalmente, 40 por cento da população não tem acesso a uma educação em uma língua que se fale ou compreenda. Devido aos processos de globalização, as línguas estão cada vez mais ameaçadas ou desaparecendo completamente. Quando línguas desaparecem, o mesmo acontece com a rica tapeçaria mundial de diversidade cultural (International Mother Language Day).

Pelo menos 20 por cento das línguas do mundo estão em perigo iminente de extinção, à medida que os seus últimos falantes morrem. ​​​​​​A extinção de uma língua se traduz na perda de conhecimento, disse K. David Harrison em 2007, diretor associado do Living Tongues Institute for Endangered Languages, e linguista do Swarthmore College.

Tēriņtš! Kui sinnõn lǟb?
(Olá! Como está você?)
Lībiešu Valoda – Língua Livoniana

Uma das menores nações sobreviventes do mundo, cerca de 200 pessoas atualmente declaram-se livonianos, os quais se denominam rāndalizt, “povo costeiro”. Tratam seu idioma nativo como rāndakēl, “língua costeira”.

Falada na região da Livônia na Letônia, uma das três repúblicas bálticas ao norte da Europa, a língua livoniana, das mais antigas entre as fino-bálticas (ou fino-úgricas), está seriamente ameaçada de extinguir-se.

Utilizado apenas familiarmente, na vida social e em atividades culturais, o livoniano nunca foi a língua comercial, escolar nem religiosa da região. Na década de 1920, tentou-se fundar um município da Livônia, o que teria afirmado a língua.

A diáspora livoniana pós-Segunda Guerra Mundial, que espalhou este povo pela Letónia e por todas as partes do mundo, complicou ainda mais a situação do idoma cuja região vive, historicamente, em uma encruzilhada de idiomas.

Atualmente, este idioma próximo ao finlandês e ao estoniano é falado por não mais que 30 pessoas.

Proximamente, mais sobre a língua livoniana nesta seção. Tienū, ammõ jõvvõ! (Obrigado, e tudo de bom!)

Frases em livoniano, com tradução ao inglês e letão: Latvian-Livonian-English Phrase Book | An English-Latvian-Liv Dictionary

Die Grenzen meiner Sprache bedeuten die Grenzen meiner Welt
Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo
Ludwig Wittgenstein

El cor no sbaglia
O coração não se engana (ditado vêneto, em língua vêneta)

Em breve aqui, todo o conteúdo de Magis quam Verbis com foco na história dos idiomas, as origens das palavras e linguística comparativa. Além de artigos sobre a situação de línguas minoritárias, e sob risco de extinção

Língua eslovaca: cursos on-line grátis + certificado oferecido pela Faculdade de Letras da Universidade Comenius de Bratislava, através da Studia Academica Slovaca – The Centre for Slovak as a Foreign Language

Língua tcheca: cursos on-line grátis oferecidos por instituição da República Tcheca

Você sabia que…

… na Itália, 68 por cento dos italianos falam línguas locais/originárias da Península Itálica?

As línguas regionais da Península antecedem o chamado “italiano padrão” e a imensa maioria dos italianos sente-se mais identificada com estas, consideradas “da família” pela proximidade e pelo afeto, que com a preponderante imposta por questões políticas, elaborada por um grupo de eruditos no século XIX fundamentados nos trabalhos de Dante Alghieri, quem possuía brilhante capacidade de expressão em toscano e fiorentino, bases do italiano moderno. Nos anos de 1920, o fascista Benito Mussolini proibiu o uso das línguas regionais em qualquer ato oficial, em escolas e trabalho por toda a Itália.

A Itália foi criada por uma pequena elite em uma época em que mais de 90 por cento dos habitantes da Península não falavam italiano (fonte). Apenas 2,5% da população da Itália falava adequadamente a língua italiana padronizada quando a nação se unificou, em 1861 (fonte).

Hino Nacional Vêneto (língua vêneta)

Napolitano, piemontês, bolonhês, cimbro, mocheno, calabrês e outros, ininteligíveis aos falantes de italiano com identidade própria, são idiomas originalmente separados do italiano. O piemontês, por exemplo, está mais próximo do francês que do italiano. O bolonhês é caso bem particular, em nada semelhante ao “italiano padrão”. O cimbro e o mocheno, muito próximos entre si, inteligíveis, descendem das línguas germânicas, bastante similares ao bávaro (alto-alemão), com muito poucas semelhanças em relação ao “italiano padrão”.

Eis aqui apenas alguns exemplos da enorme diversidade linguística da Península Itálica, invalidando tal “unificação”, artificialmente transformada em “uma coisa só” com fins políticos. Com fins políticos, por conseguinte, tais línguas são hoje marginalizadas, consideradas “dialetos”.

Em junho de 2019, o jornal diario italiano La Verità publicou artigo (imagem à esquerda) com o título A Crise no Ocidente Supera-se com as Identidades Locais Negadas, em que argumentava:

O impulso pela independência cresce em toda a Europa, porque a ligação com as próprias raízes sempre fez parte do ser humano. Enquanto os Estados nacionais lutam, os territórios individuais desafiam a globalização.

Curiosidades:

Menino ou garoto, bambino = “italiano padrão“; raga = gíria (de ragazzo, rapaz); minore (menor) = linguagem jurídica; bamboccione = neologismo; marmocchio (pirralho) = coloquial; cínno = bolonhês; gagno ou gorba = piemontês; bardàsce = veronês; bòcia = trentino; figgeu = genovês; bòcia, butìn , puteo ou putel = vêneto; putin = veneziano; piccirillo ou scugnizzo = napolitano; quatrariallu ou ninin = calabrês; picciriddu ou picciotto = siciliano; piccinnu= salentino; pischello = romanesco; fandelle = abruzzese; nini, ninetto ou bimbo = toscano; mimmo ou mimmino = fiorentino; bagai = lombardo; püable = cimbro; fiolett ou fiolin = milanês; zitello = córsico; ninni, ninu, piccinnu, piccinnieδδu, piccicchieδδu ou striiceδδu = leccese

O termo “ciao” que em italiano vale tanto para saudação na chegada, “olá”, quanto para despedir-se, “tchau”, origina-se do veneziano “s’ciavo” = literalmente “schiavo” em italiano, “escravo” em português, com o real sentido de “seu” ou “vostro” em italiano, de maneira polida. Integralmente, nem sempre dito, o termo original era “s’ciavo vostro” (plural ou singular formal) ou “s’ciavo su” (singular informal = “seu escravo”. Resultando em uma das palavras mais conhecidas e usadas em todo o mundo: “ciao!”.

Te Parlu alla Leccese
Falo com Você em Lechese
Francescantonio D’Amelio, Lecce 1775-1861 (tradução livre, Edu Montesanti)

Se nu parlu lu tutiscu
Se não falo alemão
Se nu parlu lu francese
Se não falo francês
Nu ppe quistu me rrussiscu
Não me envergonho
Ca te parlu alla leccese
Porque estou falando com você em lechese

Ogne llingua (nu sse nneca)
Cada idioma (é inegável)
Mbasciatrice è de la mente,
embaixadora é da mente
E le cose tutte spieca
E todas as coisas explica
Comu l’anima le sente
Como a alma as sente

Retornar à página inicial do site